quinta-feira, 14 de junho de 2012

SEROTONINA NOS TANQUES DA CIDADE

(...) (...)A  clínica psicopatológica tornou-se a clínica psicofarmacológica. Isso não é um mal em si, mas um fato da cultura médica que incide sobre o trabalho com o paciente. Em termos empíricos, o próprio  paciente torna-se  um produto de forças institucionais; elas fabricam a clínica e por extensão o paciente.  Tais forças se explicitam na  psiquiatria, são a psiquiatria. No espaço do atendimento, do exame, do encontro com o paciente, elas se concretizam  como rostidade  farmacológica.  É  um regime de aparência corporal, semiótica, que traça uma  linha terapêutica antes mesmo de começar o tratamento. As psicoses,  por excelência, são  objeto desse processo de rostificação. A cena extremada,  o paciente  impregnado  por neurolépticos (alterações extra-piramidais) e outros  signos  menos perceptíveis, compõem a visibilidade do espaço clínico. Assim, fazer psiquiatria nos dias atuais tem  a opção farmacológica como  palavra de ordem: prescreva mais e mais remédios químicos. Isso não vale apenas para os que estão científico e   juridicamente autorizados a fazê-lo, mas para todos os que lidam com a loucura. Nosso foco pode ser a  chamada “equipe técnica”em saúde mental.Todos medicam,  todos estão medicados,  medicalizados  numa  produção subjetiva inconsciente e incessante. Isso é de uma tal obviedade que se esconde em cotidianos naturalizados. Uma espécie de ordem  programada se impõe como desejo psiquiátrico  único e  totalizante. 
(...)
A.M.

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